A revista Rock, A História e a Glória nº 14, de janeiro de 1976, trazia uma entrevista com Cat Stevens, que mais uma vez visitava o Brasil. Fã confesso de nosso país e de nossa música, Stevens na entrevista feita pelos jornalistas Ana Maria Bahiana e Okky de Souza, revela sua admiraçao por Gal Costa,Gilberto Gil, Caymmi e Milton Nascimento. Milton, por sinal, seria homenageado por ele na música Nascimento, de seu disco Buck To Earth, de 1978, o último que ele lançou antes de se converter ao islamismo, dar uma longa pausa em sua carreira, e adotar o nome islâmico de Yussuf Islam. Abaixo trechos da matéria:
O caso de amor entre Cat Stevens e o Brasil não é recente. Há mais de três anos ele visita o nosso país com regularidade, seja para passar férias entre a praia e os bares da moda, seja para encontrar a paz necessária ao seu trabalho. Já no ano passado, Cat alugou por três meses a casa de Odete Lara, na Joatinga, Rio de Janeiro, onde se isolou para fazer seu mais recente LP, Numbers. Em 1974, ele foi à Bahia, Manaus e Brasília durante o carnaval, acompanhado de Joni Mitchell e Leon Russel.
ROCK- Por que você sempre escolhe o Brasil para passar as férias?
CAT STEVENS- Em primeiro lugar, porque adoro o país e me sinto inteiramente à vontade aqui. Sabe, o Brasil já faz parte do meu sangue. É um lugar importante para mim. Além disso, tem a música. Esse país inteiro canta, e canta alto. Acho sensacional o movimento que os jovens estão fazendo na música brasileira. Tenho certeza que algo muito novo e importante vai surgir daí.
ROCK- E como você definiria essa nova música brasileira, que você afirma estar surgindo?
CAT- Seria uma reunião de vários elementos: o rock, que fornece a simplicidade, o jazz, que elimina as barreiras e limites e o samba, que fornece o ritmo e as raízes.
ROCK- Quais os músicos brasileiros que você mais curte?
CAT- Acima de todos, Milton Nascimento. Gosto de tudo que ele faz. O Clube da Esquina é um disco fantástico, assim como o Milagre dos Peixes ao Vivo. Adoro também o último de Gil, Refazenda. Gal Costa foi a minha primeira paixão na música brasileira, através de Índia. E tem também Dorival Caymmi, que é extrordinário.
ROCK- O que você acha dos grupos brasileiros de rock? Conhece algum?
CAT- Acho que conheço só um... Secos & Molhados, era o nome, se não me engano... e eles acabaram, não é? Eu não consigo imaginar muito um grupo brasileiro de rock, porque acho que aqui as pessoas gostam mais de cantores solo, apreciam mais a personalidade de quem compõe e canta. Ou então é a multidão cantando... mas grupos, eu acho que não têm muito a ver com o Brasil.
ROCK- Você acha que o rock está sendo enterrado vivo pelas artimanhas de empresários e promotores?
CAT- Não, a música não está sendo enterrada viva, o lado empresarial da história é que está se enterrando. Uma empresa sempre acaba por se matar. É como um monstro que come demais e depois fica doente. Mas a música é espírito, é uma flor que cresce em qualquer lugar, em qualquer rocha, em qualquer monstro. A técnica empresarial é que está ficando cada vez mais complicada e matando a si própria.
ROCK- Porque você se chama Cat? (Seu nome verdadeiro é Steve Georgiu)
CAT- Um dia alguém me chamou assim e eu gostei tanto que ficou sendo meu nome. Adoro gatos. São independentes, flexíveis, detestam obedecer, medem com cuidado cada passo. Tenho muitas afinidades com os gatos.
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